Um dos conceitos mais importantes na administração de qualquer empresa é o de escassez. Ao contrário do que muita gente pensa, escassez não significa necessariamente “pouco”, mas “limitado”. Quando dizemos que um determinado recurso é escasso, estamos afirmando que as quantidades disponíveis dele são limitadas, ou seja, não há como ter um fluxo infinito desse recurso ao longo do tempo. Um exemplo: há muito petróleo no mundo, mas seus estoques não são infinitos. Assim, pode-se dizer que ele é um recurso escasso, ainda que haja grandes quantidades disponíveis. É claro que determinado recurso pode ser limitado e ter poucas quantidades disponíveis. Esse é o caso do ouro, cuja escassez explica seu alto valor no mercado.
Uma empresa – independentemente do seu tamanho ou setor de atuação – lida com a escassez o tempo inteiro. Isso porque todos os recursos de uma empresa são escassos: pessoas, dinheiro, máquinas e equipamentos e instalações físicas são apenas alguns exemplos. Uma implicação disso é que a empresa não pode se dar ao luxo de gastar mal seus recursos. Afinal, se ela se comportar assim estará comprometendo recursos que poderão fazer muita falta no futuro.
Como uma empresa pode alocar seus recursos de maneira mais adequada? Há muitas opções, porém a mais conhecida é o planejamento. Planejar significa decidir a melhor forma para alocar recursos escassos.
O problema é que nem sempre planejar implica alocação adequada dos recursos. Se o planejamento for mal feito ou se tiver erros de análise, os recursos serão aplicados de maneira inadequada. Veja o caso do setor público: frequentemente vemos obras sendo refeitas. Muitas vezes, essas obras contaram com um cuidadoso planejamento, mas ele se assentava sobre hipóteses erradas. Ou ainda – o mais comum – sequer havia um planejamento mais detalhado e a obra foi executada para atender às demandas políticas do momento. Em ambas as situações, os recursos foram inadequadamente aplicados.
Portanto, o planejamento não leva automaticamente à alocação adequada dos recursos, mas a sua ausência provavelmente fará que esses recursos sejam desperdiçados. Por isso, planejar é importante em qualquer empresa.
Existem vários tipos de planejamento, sendo o planejamento estratégico o mais conhecido de todos. Ele consiste em uma metodologia para auxiliar a empresa a definir melhor seu escopo de atuação e – a partir daí – definir seus objetivos e metas. Usualmente, o planejamento estratégico está dividido em seis fases:
FASE 1: definição dos valores: conjunto de crenças da empresa a respeito do seu mercado de atuação.
FASE 2: definição da missão da empresa, ou seja, a sua finalidade.
FASE 3: definição da visão: aquilo que a empresa deseja ser no futuro.
FASE 4: análise dos ambientes interno e externo.
FASE 5: definição dos objetivos.
FASE 6: definição das metas.
A sequência e número de fases podem variar, dependendo de quem conduz o planejamento estratégico. Porém, não dá para fugir muito das seis fases aqui mostradas.
No início dos anos 1980 muitos acadêmicos e profissionais de mercado passaram a criticar pesadamente o planejamento estratégico. O argumento principal é que ele seria estático, por obrigar a empresa a seguir objetivos e metas calcados em análises passadas dos ambientes internos e externos. Para esses críticos, mercados muito dinâmicos tornariam o planejamento estratégico inútil, uma vez o ambiente estaria em constante mudança, impedindo a definição clara de objetivos e metas.
No início dos anos 1980 muitos acadêmicos e profissionais de mercado passaram a criticar pesadamente o planejamento estratégico. O argumento principal é que ele seria estático, por obrigar a empresa a seguir objetivos e metas calcados em análises passadas dos ambientes internos e externos.
Atualmente, o planejamento estratégico perdeu muito da sua imagem de “salvador de empresas”, cultivada antes dos anos 1980. Ainda que muitas criticas feitas a ele fossem sem sentido, o fato é que a polêmica em torno dele ajudou a identificar muitas de suas limitações. Uma delas realmente tem a ver com o tipo de mercado em que a empresa atua: se ele for muito dinâmico, pode não compensar definir objetivos e metas muito estritos. O melhor nesse caso é ter diretrizes mais flexíveis, que possam ser mudadas quando necessário. Todavia, em mercados mais estáveis o planejamento estratégico pode ajudar bastante a definir a melhor forma de alocar recursos.
Apesar disso, o planejamento estratégico – assim como os outros tipos de planejamento – é importante para a empresa. Como dito anteriormente, um planejamento bem feito não garante a adequada alocação de recursos, mas a ausência desse planejamento quase certamente leva ao desperdício.
Para saber mais:
Assista à web-aula “Funções da Administração: Planejamento”, disponível no canal da Quadrivium Academic no YouTube.
Você também pode ler as seguintes referências:
BARNEY, Jay; HESTERLY, William. Administração estratégica e vantagem competitiva. 3 ed. São Paulo: Prentice-Hall, 2011.
Um dos melhores livros sobre administração estratégica na atualidade. Jay Barney é hoje um dos autores mais citados na literatura gerencial, sendo o responsável pela propagação da chamada Visão Baseada em Recursos (VBR). Ela é uma teoria que tem ganhado grande importância na administração de empresas no Brasil e no mundo.
MINTZBERG, Henry. Ascensão e queda do planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman , 2004.
Livro clássico do professor canadense Hanry Mintzberg. Ele analisa como o planejamento estratégico ganhou importância nas empresas e como suas limitações o puseram em cheque. Leitura obrigatória para quem acha que basta ter planejamento estratégico para resolver todos os problemas da empresa.
PORTER, Michael. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1989.
Um dos maiores clássicos da administração, escrito por seu autor mais citado, o norte-americano Michael Porter, professor da Harvard University. Esse livro é obrigatório para todos que lidam ou pretendem lidar na área gerencial, pois descreve conceitos que hoje são fundamentais como: vantagem competitiva, modelo das cinco forças, geração de valor, entre outros.
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